O que eu tenho
Certa noite eu estava em uma igreja e, ouvindo os avisos da semana me surpreendi quando o pastor disse: “Irmãos, tragam seus donativos para a igreja, pois a secretária me avisou que a dispensa está vazia, várias pessoas vieram nos procurar pedindo ajuda, mas não tínhamos nada a oferecer.”
Estas palavras me levaram a refletir sobre o papel da igreja de Jesus em nossos dias. O que eu e você temos oferecido as pessoas que nos procuram pedindo ajuda? Constantemente estamos cercados de pessoas que pedem algo: nos ônibus, ruas, restaurantes, portas de igrejas, etc. Qual o nosso papel como cristãos? Qual é a forma de ajudar esta multidão faminta, que necessita de ajuda, seja ela de qualquer natureza. Qual é realmente a ajuda eficaz, que irá solucionar de uma vez por todas a necessidade deste povo carente?
Pensando nisto, o Espírito Santo me levou a meditar sobre Pedro e João, á porta do templo chamada Formosa, quando subiam para a oração às três horas da tarde.
“Pedro e João subiam ao templo para oração da hora nona.
Era levado um homem, coxo de nascença, o qual punham diariamente à porta do templo chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.
Vendo ele Pedro e João, que iam entrar no templo, implorava que lhe dessem uma esmola.
Pedro, fitando-o, juntamente com João, disse: Olha para nós.
Ele os olhava atentamente, esperando receber alguma cousa.
Pedro, porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que eu tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!
E, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram; de um salto se pôs em pé, passou a andar e a louvar a Deus.
Viu-o todo o povo a andar e a louvar a Deus, e reconheceram ser ele o mesmo que esmolava, assentado à porta Formosa do templo; e se encheram de admiração e assombro por isso que lhe acontecera.” (At 3:1 a 10).
Vamos refletir sobre a vida destes homens, descobrir o que eles tinham a dar e receber, e tirar lições práticas para as nossas vidas.
PEDRO
Pedro foi alguém que recebeu muito de Jesus, porém, não tinha muito o hátibo de dar.
Rude, de hábitos grosseiros, o pescador Galileu não era um tipo muito agradável. Sempre rebatia aquilo que Jesus dizia.
Se Jesus dizia: “Lançai a rede”
Ele dizia: “Mas nós lançamos a noite toda e não pegamos nada”. (Lc 5:5)
Se Jesus dizia: “Não temas, sou Eu”.
Ele dizia: “Se és tu mesmo Senhor, manda ir ter contigo”. (Mt 14:28)
Um homem prático, porém adiantado, sempre com uma resposta na cabeça. Resposta esta que, muitas vezes, não coincidia com a vontade de Deus.
Sempre querendo resolver as questões, com o coração disposto a ajudar no que fosse possível.
No momento da transfiguração, a emoção era tanta que ele disse:
“Mestre, bom é estarmos aqui; então, façamos três tendas: uma será tua, outra de Moises e outra, de Elias, não sabendo, porém, o que dizia”. (Lc 9:33).
Como sempre, no seu ímpeto de querer adiantar as coisas, confundia as coisas espirituais com as materiais, e complicava tudo.
Ele não é um exemplo raro em nossos dias. Nas igrejas do século XXI, o “ativismo” tem sido a forma que muitos tem usado para expressar o “serviço do reino”. São cultos, escola bíblica, visitas, palestras, círculos de oração, vigílias, cultos de mocidade, encontros, acampamentos, etc. Que, juntando com o trabalho, escola, transporte, cursos. Só nos resta tempo para comer rápido e dormir um pouco. E Deus, onde fica nisto tudo?
Talvez você diga: “Mas irmão, eu gasto o meu tempo no serviço do Senhor.” Paulo também achava isso, quando foi para Damasco perseguir os cristãos. No entanto, Deus mostrou o que realmente queria que ele fizesse.
Ou talvez você me pergunte: Irmão, você esta querendo dizer que devemos deixar de ir a igreja? A resposta é não! Porém, devemos avaliar o que vamos fazer quando vamos á igreja. Qual o propósito que nos move, qual o objetivo que queremos alcançar, será que estamos sendo edificados com estas práticas da igreja de hoje?
Analisemos o que disse Paulo com relação a isto:
“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este trás revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação . Seja tudo feito para edificação.” (1 Cor 14:26).
Se você for daqueles que acha que estas coisas são para as pessoas que estão à frente, os lideres, pastores, aqueles que receberam uma “unção ministerial”, você está muito enganado, pois o Deus que nós servimos, o nosso Pai celestial, não tem filhos prediletos, não faz diferença de “A” ou “B”, não tem “unção especial” sobre ninguém, todos são rigorosamente iguais. Então você não leu o texto que diz:
“Deus não faz acepção de pessoas.” (At 10:34).
Ou então:
“Vós possuís a unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento”. (1ª Jo 2:20).
Agora, se você não tem o conhecimento, não possui a unção, e acha que não tem nada a oferecer, o seu caso é muito serio, pois terá que reavaliar todos seus conceitos sobre Deus, para então poder saber o que Ele tem a lhe dar, e o que você passará a ter para oferecer aos outros.
Após o paralítico olhar para Pedro, ele disse:
“Não possuo nem prata, nem ouro, mas o que tenho...”
Quando Pedro disse isto, ele e João sabiam exatamente o que tinham, não precisava ninguém lhe dizer, estava impresso nos seus corações. Pedro não pensou nos barcos que deixou ancorados no mar da Galiléia, ou nas ofertas que os irmãos tinham dado a ele, ou em qualquer outra coisa que possuísse, sabia exatamente o que tinha.
Um exemplo claro da personalidade de Pedro se mostra na ultima ceia, quando Jesus disse:
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo.
Eu, porém, roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; tu pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”. (Lc 22:31,32).
Quando Jesus proferiu estas palavras sabia qual a conversão pela qual Pedro teria que passar. Jesus sabia o que Pedro teria que adquirir para poder fortalecer os outros. Mas Pedro, logo a seguir, mostra mais uma vez a sua personalidade quando diz:
“Ele, (Pedro) porém, respondeu:
Senhor; estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão, como para a morte “. (Lc 22:33).
Palavra de quem não sabia o que possuía, pois, só bastou cair à noite para que o mesmo corajoso e empolgado Pedro, negasse a Jesus.
Olha irmão, muita empolgação, muita “conversa fiada”, muita coisa que fizemos não valem nada, se não tivermos o nosso coração pronto, convertido, transformado, um coração realmente nascido de novo, fluindo, transbordando de coisas espirituais.
O texto de 1ª Timóteo 4:7,8 e 9 na versão da bíblia na linguagem de hoje, exepressa com clareza o que queremos mostrar.
“Mas fujas das lendas pagãs e tolas, para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios espirituais. O exercício físico na verdade tem algum valor, mas o exercício espiritual tem valor para tudo porque o seu resultado é a vida, tanto agora como no futuro. Esse ensinamento é verdadeiro e deve ser crido e aceito de todo o coração. É por isso que lutamos e trabalhamos muito, pois temos posto a nossa esperança no Deus vivo que é o Senhor de todos, especialmente dos que crêem”.
Precisamos deixar bem claro o que é atividade espiritual e o que é atividade física. Uma atividade física leva tempo, esforço, ou dedicação, porém, o seu fruto é terreno, o máximo que se consegue é realizar uma boa ação, um alívio de consciência (alma), foi pouco o proveito. São aquelas atividades que são meramente religiosas, só por não ter o que fazer, utilizar o tempo livre, ou então por obrigação.
O indivíduo se sente obrigado a realizar atividades religiosas com medo do inferno; ou uma obrigação social; ou porque os seus pais lhe ensinaram que deveria fazer assim, etc.
A atividade espiritual, para tudo é proveitosa, ela faz crescer espiritualmente. O que estamos falando aqui não é dos cultos ou reuniões nas igrejas, pois lá, como já vimos, oferecemos algo, desde que tenhamos algo.
Estamos falando de atividades tais como: oração no Espírito Santo (línguas), meditação na palavra, jejuns, adoração a Deus, uma busca por um crescimento, desenvolvimento espiritual, atividades que são baseadas na fé e não na religiosidade. Precisamos possuir algo para poder dar as pessoas. O mensageiro que leva as boas novas, ele tem que possuir a esperada notícia, pois, se assim não for, que sentido terá o seu trabalho? De que serviria um mensageiro sem uma mensagem? Como poderemos dar algo, se não há nada em nós para ser dado.
Ao se deparar com o coxo, Pedro sabia o que ele possuía, sabia qual era o propósito de Deus para a sua vida. Em sua conversa com Jesus após a ressurreição, podemos ver claramente que houve uma mudança em sua vida. Jesus fez a mesma pergunta três vezes, e nas respostas de Pedro podemos ver que ele já estava começando e entender o que realmente Deus queria que ele possuísse. Nas três vezes que Jesus perguntou se o amava, ele pode analisar o seu coração e tudo o que aprendeu, pois, a terceira resposta mostra que o seu ímpeto já não existia, e sim, o ímpeto do Espírito Santo movendo um coração transformado:
“Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.(Jo 21:17).
Ele sabia o que Jesus queria, repetindo a mesma pergunta três vezes, queria que ele expressasse o que agora, estava no seu coração, que era uma dependência total de Deus, para guiar suas ações e resolver seus problemas, como vemos em tantas ocasiões em que se levantou e mostrou com ousadia aquilo que possuía.
JOÃO
Falar sobre o que João possuía, de primeira, nos leva a pensar naquele apóstolo que escreveu quarto evangelho, conhecido como o evangelho do amor.
O “discípulo amado”, como era conhecido, ou “aquele a quem Jesus amava”, demonstra que havia um interesse particular de Jesus em ensinar certas coisas a João. Vemos logo no seu chamamento quando Jesus os denomina, ele e seu irmão Tiago, de “filhos do trovão”, que possuíam uma característica enérgica, que é demonstrada pelo rigor vingativo com que queriam tratar os samaritanos que não queriam hospedar Jesus:
“Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?
Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espíritos sois? Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia “. (Lc 9:54 a 56).
Quanta energia desperdiçada, tanta fé em algo que não era a vontade de Deus. Perda de tempo.
Em nossos dias não é diferente, as igrejas esbanjam energia (esforço) em coisas que não levam a lugar algum. São batalhas após batalhas, principado daqui principado dali, e o povo continua na mesma situação de vida, não há crescimento espiritual, não há uma busca pelas práticas verdadeiramente espirituais, e sim, uma guerra sem fim baseado em textos bíblicos mal interpretados e em conhecimentos adquiridos em horas de diálogos com pessoas possessas, formando assim doutrinas mais baseadas no que os demônios dizem, do que na revelação do Espírito Santo, através da meditação na Palavra. Cristo não nos chamou para a batalha, Ele nos chamou para sermos servos, para sermos filhos, nos chamou das trevas à sua maravilhosa luz, como está escrito:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.“. (1ª Pe 2:9).
A fim de proclamardes as virtudes, este é o objetivo, este é o chamamento, este é o evangelho, as boas novas, e se alguém pregar outro evangelho seja maldito (conforme Gl 1:8 e 9). Mas é exatamente isto que vemos em nossos dias, as pessoas gastando horas e horas com práticas de batalhas e ensinamentos que não estão de acordo com a verdade de Deus. Por exemplo: Tomam a armadura de Deus como sendo uma vestimenta física ou amuleto e fazem dela a sua “defesa pessoal”.
Vejamos o texto da carta aos efésios quando diz:
“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças do mal, nas regiões celestes.”. (Ef 6:12).
O texto não diz que eles lutam nas regiões celestes, mas que eles estão nas regiões celestes. Mas você me pergunta: Irmão, não há uma guerra? Há sim, mas a guerra de que fala a Bíblia está escrito em Gálatas 5:17:
"Porque a carne milita contra o espírito, e o Espírito contra a carne", porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja do vosso querer“. (Gl 5:17).
Meu irmão, não queira invalidar a vitória de Jesus na cruz procurando brigas com demônios nas regiões celestiais, isto, Cristo já fez. A batalha que você precisa vencer é a batalha da verdade da palavra no seu espírito contra a mentira do diabo na sua vida, e para isto, você precisará da verdade, da justiça, da pregação do evangelho, da fé, da salvação, da palavra de Deus. Agora quer saber como se consegue isto?
“Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto, vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”.
(Ef 6:18).
Se João possuísse isto, não iria querer fazer a batalha com os samaritanos.
Mas ainda bem que Jesus estava ao seu lado para impedi-lo a tempo e lhe ensinar de que espírito nós somos.
O coração de João era tão intolerante, que não permite que outro homem expelisse demônios em nome de Jesus, só porque não andava com eles. Mas Jesus lhe disse:
“Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagres em meu nome e logo a seguir fale mal de mim.
Pois quem não é contra nós, é por nós’’.
(Mc 9:39 e 40).
Outro fato importante na vida de João, é que, ele queria possuir alguma coisa. Vejamos o que era:
“Então chegou-se a Ele a mulher de Zebebeu com seus filhos, e adorando-o, pediu-lhe um favor.
Perguntou-lhe Ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu Reino, estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda”. (Mt 20:20 e 21).
Algo que sempre rondava as idéias de todos, naqueles dias, era a idéia de Jesus como um rei político, aquele que restauraria o reino a Israel. Até mesmo após a ressurreição esta dúvida ainda existia em algumas pessoas.(At 1:6). Portanto, no momento em que seguiam para Jerusalém (Mt 20:17), próximo a festa da páscoa, e após Jesus ter dito aos doze que iria ser entregue aos principais sacerdotes e aos escribas, mas que no terceiro dia ressuscitaria (Mt 20:18, 19), este era sem dúvida, o momento para um pedido especial. Chegando-se, prostrando-se e adorando, fizeram tudo “conforme manda o figurino”, exceto quanto ao pedido que foi um tanto quanto ambicioso demais. Quando se vive na dependência da alma e não do Espírito, nossas idéias ficam limitadas ao mundo físico, à matéria, aquilo que se vê, se ouve ou se sente, ou seja, as circunstancias. Não foi diferente com Tiago e João, eles queriam uma posição neste reino que estava por vir e tentaram dar um jeito de conseguir.
Estamos nos dias em que o “movimento evangélico” ou “movimento gospel”, atinge grandes proporções e sempre tem alguém querendo tirar vantagem disto, ter uma posição de destaque e o resultado é o mesmo que aconteceu com os discípulos:
“Ora, ouvindo isto ao dez, indignaram-se contra os irmãos”. (Mt 20:24).
Uma reação óbvia acontece, quando o que se quer ter é o poder (domínio), sempre gera contendas, indignação, ódio, mortes, ou seja, frutos da carne.
Hoje há uma grande disputa entre as denominações, por mais que se diga que pregamos o amor de Jesus, somos um corpo em Cristo, temos a mesma unção, a verdade é que não há uma unidade, nem união há, pois quando se reúnem para fazer algum evento, a primeira pergunta que fazem é: “E as pessoas que se converterem, para que igreja elas vão?” E a partir daí surgem às discussões de gabinetes e cada um volta para “a sua igreja”.
Um exemplo bem claro é quando há política em jogo. As igrejas de grande porte lançam seus candidatos e correm atrás das pequenas igrejas para dar apoio e quando as eleições passam, botam novamente para fora as suas diferenças.
Com João não foi diferente, ele, junto com seu irmão Tiago, queriam ser assessor direto de Jesus, nem que para isto, tivessem que passar por cima dos outros dez. Foi então quando Jesus interveio, ensinando-lhes algo que foi muito importante durante o processo de crescimento da igreja:
“Então Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrario, quem quiser ser o primeiro Entre vós será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; Tal como o filho do homem, que não veio para ser servido, mas para Servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Mt 20:25 a 28).
Aqui, Jesus ensinou algo que realmente nós devemos ter; o desejo de ser servo acima de qualquer atitude que os outros tenham para conosco. Jesus sabe como é o governo dos povos, mas não é assim entre nós. Isto foi algo que João aprendeu, a ser servo. O fato de Pedro ter dito as palavras ao coxo, não o fez maior do que João, eles eram absolutamente iguais, o mesmo corpo (de Cristo), a mesma unção, a mesma mensagem vinda de corações transformados. Por isso, tinham algo para oferecer, que não era ouro nem prata, mas nós sabemos muito bem o que era.
O COXO
Os coxos sempre apareceram na Bíblia, com mais freqüência no novo testamento, onde geralmente eram curados por Jesus (Lc 7:22). Este coxo, por sua vez, estava diariamente (At 3:2) à porta do templo chamada formosa, que era a principal entrada das pessoas, para pedir esmolas. Não era algo incomum para ele, pois diariamente, por mais de quarenta anos (At 4:22), esteve ali, implorando que lhe dessem uma esmola, e algo fica muito claro para nós, precisava muito de ajuda, pois o texto diz que ele não apenas pedia, mais implorava por uma esmola.
“Vendo ele a Pedro e João que iam entrar no templo, implorava que lhe dessem uma esmola”. (At 3:3).
Era um pobre coitado, jogado a mercê da caridade de todos os que por ali passavam, mais de quarenta anos de sofrimento, de desprezo, de necessidades, a ponto de nem mesmo poder se conduzir, pois era levado pelos outros a estar ali (At 3:2), e só ficava à parte, pois os deficientes não podiam entrar no templo (2ªSm 5:8).
Que esperança havia para um homem como este? Como planejava terminar seus dias? O que poderia fazer, além de esperar a morte?
Mas “ele os olhava atentamente esperando receber alguma coisa”. (At 3:5).
Ele sabia que havia algo para ele com aqueles dois homens, talvez não esperasse que fosse tanto quanto recebeu.
O mundo olha para nós (igreja) atentamente. Agora me responda como toda a sinceridade: o que ele tem visto? Seria muito difícil para muitas pessoas hoje dizer como Pedro: “Não possuo nem ouro nem prata”. Pois na verdade estão indo às igrejas por causa do dinheiro. Eles dizem: “Eu dou dez por cento e recebo quatro vezes mais”. É melhor do que investir na bolsa de valores ou depositar no banco. Não sou contra o homem dar ofertas, nem quanto a possuir bens, mas a palavra deixa bem claro quando diz:
“Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmo se atormentaram com muitas dores”. (1ª Tm 6:10).
Há muita coisa a ser feita em relação aos necessitados, assim como há muita coisa a fazer em relação às nossas necessidades e eu sei também que dinheiro não brota em árvores e nem cai do céu. Nós precisamos utilizar o dinheiro no nosso dia a dia, porém a nossa confiança não deve estar na instabilidade das riquezas (1ª Tm 6:17) e nem devemos andar ansiosos por adquiri-la. (Mt 6:25 a 34).
Mas uma coisa ainda continua, o mundo espera receber algo, sejam ricos, ou pobres, sejam sãos, ou doentes, todos tem os olhos fixos na igreja (eu e você) esperando receber alguma coisa, e o que nós temos a oferecer? Uma cesta básica a cada final de semana? Uma cura de enfermidade? O dom de adquirir riquezas? Uma música alegre, para se descarregar do “stress” do dia-a-dia? Com toda a sinceridade do meu coração, se queremos conquistar as pessoas com coisas paliativas, o diabo estará sempre a nossa frente, pois ele é mestre em oferecer aquilo que não pode dar, e assim tem enganado a muitos.
Podemos observar que, o que Pedro e João deram a ele foi muito mais do que simplesmente uma cura física. Como já vimos (em 2ªSm 5:8), ele não podia entrar no templo, por mais de quarenta anos, simplesmente sentado à porta principal (Formosa) do templo, mais de quarenta anos vendo as pessoas entrarem e saírem após a adoração, mas não podia entrar no templo, não podia nem chegar lá, pois sempre era carregado pelos outros. Mas após a cura, após a modificação, após a restauração, o texto é bastante claro quando diz:
“e de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou no templo, com eles, saltando e louvando a Deus”. (At 3:8).
E o que isto significa? Significa que, antes ele estava privado da presença de Deus, estava morto espiritualmente. Porém, agora, podia entrar no templo, podia adorar a Deus, agora tinha livre acesso ao Pai, recebeu algo bem maior do que a cura física, ele recebeu a oportunidade de ser filho de Deus, e como tal recebia também as promessas contidas nesta posição, e nada mais lhe seria impossível, pois “Tudo é possível ao que crer”. (Mc 9:20).
Será que você quer mais motivos do que este para sair saltando e louvando a Deus no meio do povo? O fato de ser nova criatura é algo espetacular, se você tem consciência do que é ser Filho de Deus, se tomar posse (crer) de todas as promessas que Jesus adquiriu, para nós, na cruz, através da sua ressurreição, todas estas coisas (cura, vida abundante, alegria, paz) serão uma conseqüência da sua vida em Deus. Novamente eu pergunto a você: Nós temos isto? Temos a nova vida em Deus? Temos as promessas de Jesus? Se temos, porque não vemos manifestações do poder de Deus, como esta ou como tantas outras que vemos na Bíblia? É preciso analisar o nosso coração para sabermos se aquilo que pregamos é algo que realmente possuímos. Não podemos pregar vida abundante, quando a própria vida é uma vida de derrota e frustração. Não podemos viver uma vida meramente religiosa, onde a rotina vazia e sem nexo preenche apenas o horário destinado para ir ao culto. Não podemos dizer que amamos ao Senhor, quando a nossa ida à igreja é simplesmente para satisfazer o nosso egoísmo e querer que Deus nos dê tudo, em troca de algumas músicas cantadas e dez por cento do nosso salário.
É preciso conhecer bem a Palavra, para que ela possa separar o que é alma, do que é Espírito (Hb 4:12), e assim podermos julgar se as nossas palavras condizem com os nossos atos.
OLHA PARA NÓS
“Pedro fitando-o, juntamente com João, disse: olha para nós”.(At 3:4).
Pedro e João subiam tranqüilos as escadas de entrada do templo quando de repente são abordados por um mendigo que lhe pediu uma esmola. O texto anterior diz que o coxo viu a Pedro e João: “Vendo ele a Pedro e a João”...(At 3:3). Porém Pedro lhe disse: “olha para nós”. Pedro queria chamar-lhe a atenção para algo, e ele “os olhava atentamente, esperando receber alguma coisa”. (At 3:5).
Uma das coisas mais fáceis em nossos dias é fazer com que as pessoas olhem para nós, é só fazer alguma coisa que chame a atenção que logo a mídia está em cima do fato, transmitindo os acontecimentos. Porém, com a mesma rapidez com que são vistos, são esquecidos, e volta tudo a ser como era antes. Acontece assim com qualquer coisa; uma música, um filme, um acidente em grandes proporções, etc. É só aparecer outra novidade que estão todos mudando os olhos novamente. E tem sido assim com igreja, porém, eles (o mundo) não estão interessados em mostrar nada que edifique, pois estão no mundo e o mundo jaz no maligno (1ª Jo 5:19). E é só descobrirem um escândalo na igreja e lá estamos nós na televisão em cadeia nacional.
Então você me pergunta: E nós devemos esconder nossas falhas? Não! Não devemos ser mentirosos e muitos menos hipócritas a ponto de dizermos que não temos falhas. Porém, Pedro disse: “olha para nós”. Ele queria mostrar algo que não era meramente uma esmola, era algo que mudaria a vida daquele homem. Pedro precisava chamar-lhe a atenção para algo que tinha recebido de Jesus, e agora estava pronto a repartir com aquele homem. Após a manifestação do poder de Deus, vimos que não era mais necessário chamar a atenção de ninguém:
“Quando todo o povo o viu andar e louvar a Deus...
Ficaram cheios de admiração e assombro por isso que acontecera”. (At 3:9 e 10).
A atenção de todos estava voltada para uma novidade, que não era um escândalo. E deu espaço para Pedro proclamar a mensagem de Deus, levando muitos ao arrependimento:
“Muitos porém, dos que ouviram a palavra, creram, e chegou o número desses a quase cinco mil”.(At 4:4).
E isto não foi tudo. Pois após terem sido presos deram mais uma vez o testemunho da obra redentora de Jesus e os sacerdotes ouviram a palavra, ficaram irados, mas não puderam fazer nada:
“Mas vendo eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrário”.(At 4:14).
Eles ainda os ameaçavam, mas Pedro porém lhes disse:
“Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido”.(At 4:20).
Não é maravilhoso saber que quando andamos segundo aquilo que Deus nos diz, quando realmente obedecemos de coração, quando nos dispomos a realizar as suas obras, os nossos inimigos ainda que queiram nos matar, nada podem fazer contra nós. Portanto:
“Devemos fazer as obras daquele que me enviou enquanto é dia. à noite vem, quando ninguém pode trabalhar”.(Jo 9:4).
ISSO TE DOU
“Pedro porém lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou”. (At 3:6).
Uma vez que Pedro chamou a atenção do homem, agora era o momento de transmitir-lhe a mensagem. Pedro mostrou-lhe qual era o propósito de ter chamado a atenção do coxo. O propósito seria para dar algo ao coxo, e ele foi bastante direto em seus objetivos, sem rodeios, sem demora, sem burocracia, foi mostrando ao coxo o que ele tinha a oferecer, e como vimos,o coxo aceitou o que tinham lhe oferecido. Em um mundo onde o egoísmo, a ganância, a inveja predominam, onde um homem só é reconhecido pelo fato de possuir algum bem, onde o desejo de ter predomina nos corações dos homens, é muito difícil estar disposto a dar em favor dos outros, principalmente se forem pessoas desconhecidas, com quem não possuímos qualquer relação ou compromisso. Porém, a palavra de Deus é muito, muito, muito clara em relação ao dar. São muitos exemplos onde há a demonstração do coração de Deus, e de como Ele deseja que o coração do homem seja.
Em João 3:16 vemos muito claramente que Deus deu o seu Filho:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”. (Jo 3:16).
Deus deu o seu único filho, unigênito, ou seja, Deus abriu mão daquilo que possuía de melhor, por um único motivo, o amor aos homens. Amar de uma forma como esta, só Deus poderia faze-lo.
E não é só isto, pois o próprio Jesus disse:
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”. (Jo 10:11).
Não é só o fato de Deus ter dado Jesus, é também o fato de próprio Jesus ter se dado por nós. Acompanhando o amor de Deus, acompanhando a atitude de Deus, acompanhando o coração de Deus, Jesus seguiu naquilo que Deus tinha planejado até o fim:
“Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumido a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.(Fl 2:6,7,8).
E Jesus ainda disse:
“Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou.
Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la e este mandato recebi de meu Pai”.
(Jo 10:17,18).
E quanto a nós? Falamos do coração de Deus, do coração de Jesus, e quanto ao nosso coração? Provérbio 4:23 diz:
“Sobre tudo (de todas as coisas) que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes (saídas) da vida”.
Mas talvez você diga: “Eu tenho um bom coração, eu procuro na minha vida fazer tudo direito, não mato, não roubo, e nem cobiço a mulher de ninguém. Talvez aos seus olhos você seja uma pessoa justa, correta, como Davi, o homem segundo o coração de Deus”.
Mas como Deus vê o coração do homem?
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos;e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações”. (Jr 17:9,10).
E agora, o que fazer? Ao analisarmos nosso coração, nos deparamos com um coração enganoso, pecaminoso, desesperadamente corrupto. Nossos desejos só levam ao pecado, nossas ações só levam a morte. Como reverter este quadro? Como mudar algo que está tão enraizado em nosso ser, algo que é tão intimo, tão nosso, tão secreto, algo que às vazes tentamos esconder de nós mesmos e principalmente, tentamos esconder de Deus?
Mas Deus diz:
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.
E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrario, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”. (Hb 4:12,13).
Aí está o segredo revelado aos nossos olhos, uma vez que nos entregamos à palavra de Deus, estudando, meditando dia após dia, a própria palavra vai separar, em nossas vidas, aquilo que é carne, o que é alma e o que é espírito, e a própria palavra nos mostrará o que realmente temos em nosso coração, e nos ensinará como agirmos corretamente, nos fazendo mais que vencedores em todas as coisas. Uma vez transformados, podemos chegar a dizer como Pedro: “isso te dou”, e termos a certeza de que Deus suprirá todos as nossas necessidades, nos fazendo viver em abundância e nos fazendo transmitir aquilo que temos para todos que estiverem ao nosso redor.
ANDA!
“Pedro porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus, o Nazareno, anda!”.(At 3:6).
Tudo é um processo. A principio chama-lhe a atenção quanto a algo que se quer mostrar, desperta a curiosidade, conquista a atenção, e logo após relata a que deseja, passa a mensagem, mostra qual o desejo de Deus em relação à necessidade dele, e então vai à prática a realização do feito em si, aquilo pelo qual foi enviado. À parte de chamar a atenção é muito fácil, as pessoas sempre estão dispostas a ver algo novo, é só ter algumas pessoas concentradas em algum lugar, que logo junta uma multidão, ninguém quer ficar por fora das notícias. Em seguida vem a mensagem. Esta parte já não é tão fácil, pois requer conhecimento. Um princípio para se levar uma mensagem, é ter uma mensagem, e tem que ser algo que interesse aos ouvintes, do contrário, eles irão embora. Neste ponto, muitos têm estudado, pesquisado, questionado, para poder ter sempre uma mensagem nova, que chame a atenção dos ouvintes, e em alguns casos, como sabemos, não precisa nem ser verdade, basta só que chame a atenção, e neste caminho muitos têm caído.
Porém, o nosso assunto agora é sobre a terceira parte, a prática, algo que realmente poucos tem atingido, poucos tem obtido a prática das verdades de Deus em suas vidas. Você acha que estamos exagerando? Então vejamos alguns exemplos em nossos dias, dentro das nossas igrejas.
Certo dia fui visitar uma determinada igreja, onde me chamou a atenção uma frase que estava escrita bem na frente da porta de entrada: “Uma obra de fé, na unção do Espírito Santo”. Entrei, e após alguns cânticos, iniciou-se o estudo, o assunto era: “O batismo no Espírito Santo”. Após algumas explicações e análises teologicamente corretas, após a afirmação da “nossa crença pentecostal”, perguntou-se ao grupo quantas pessoas já haviam sido batizadas no Espírito Santo. Grande foi a minha surpresa ao perceber que, de todo o grupo só havia outra pessoa e eu batizados no Espírito Santo. O próprio pastor da igreja relatou que há mais de quinze anos orava ao Senhor para receber tal benção. Isto é um absurdo! Pensei comigo. Reli a frase que estava na entrada da igreja, analisei todos os pontos explicados pelo pastor, reavaliei os pontos que prega a “fé pentecostal”, e tudo estava correto, no entanto na hora da realização, da prática, havia uma falha enorme.
Ele não é um exemplo isolado, temos muitos exemplos em nossos dias. Pregamos a cura divina, sabemos tudo sobre o fato de Jesus ter levado na cruz as nossas enfermidades, conhecemos cada versículo que fala sobre cura, e, no entanto, estamos constantemente enfermos, não estou falando somente de uma doença isolada em determinada época da nossa vida, estou falando de pessoas que vivem constantemente doentes. Vejamos um exemplo. Se aparece um determinado pregador na igreja, e faz orações pela cura divina, pela restauração física, vai uma multidão à frente para receber a oração. Oram, são ungidos e voltam para os seus lugares. Após certo tempo, o mesmo pregador volta, faz um outro sermão, e na hora da oração, qual não é a nossa surpresa que, a mesma multidão se levanta e vai à frente para receber a mesma oração, e é assim mês após mês, ano após ano. É a mesma coisa com a prosperidade, empresários que oram pedindo bênçãos de Deus, e no entanto agem ilegalmente para com os impostos e são desumanos para com os funcionários. E funcionários que oram pedindo aumento de salário, e quando o recebem oram pedindo aumento novamente porque aquele não dá mais. Culpam o governo, culpam a inflação, culpam a empresa, mas na verdade a culpa é deles que tem a promessa de Deus e não usufrui dela por não andar conforme Deus diz. A prosperidade não está no fato de possuir bens ou ter um aumento de salário, mas sim, quando vemos o cuidado de Deus nos suprindo mesmo quando nossas receitas estão abaixo das nossas despesas. São em situações como estas que me vem á mente as palavras de Jesus aos discípulos, quando disse:
“Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” (Mt 17:17).
Fica bem claro para nós que Jesus não teria chamado os discípulos de incrédulos se eles não tivessem condições de expelir o demônio, Jesus os chamou de incrédulos porque já possuíam o entendimento quanto à libertação dos oprimidos do diabo.
“Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre espíritos imundos para os expelir, e para curar toda sorte de doenças e enfermidade”. (Mt 10:1).
Talvez você não tenha observado que quando Jesus deu a eles autoridade, isto foi no capitulo 10 de Mateus, e quando Jesus lhe chamou de incrédulos, foi no capitulo 17 de Mateus, logo, já sabiam o que deveriam fazer. A mesma coisa acontece em nossos dias, Jesus nos deu a total garantia de suas promessas, nos enviou o Espírito Santo para que não ficássemos órfãos, nos deu a palavra para nos orientar, e no entanto pegamos tudo e fazemos uma grande confusão, criando várias divisões de um mesmo corpo, e confundindo a cabeça de qualquer pessoa que queria entender como a igreja funciona. Porque na verdade cada um só tem pensado em beneficio próprio, só tem procurado edificar um reino que, mais parece seu do que de Deus.
Mas, e as orações que fazemos? E os jejuns? E os cultos de louvor? Nada disso funciona? Depende, é lógico, de onde surge este culto! Vejamos o que diz o profeta Isaías a respeito do assunto:
“Mesmo neste estado ainda me procuram dia a dia, tem prazer em saber os meus caminhos; como povo que pratica a justiça, e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da justiça, tem prazer em se chegar a Deus, dizendo: Porque jejuamos nós, e Tu não atentas para isto? Porque afligimos as nossas almas, e Tu não levas em contas? Eis que no dia em que jejuais cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e rixas, e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje não se fará ouvir a nossa voz no alto”. (Is 58:2,3,4).
Fica bem claro para nós que Deus não atentará para um coração que só pensa em si mesmo, em seus deleites e prazeres, deste jeito não se fará ouvir á vossa voz no alto.
E quanto aos louvores que eles proferem, que se diria deles?
“O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me louvam, mas o seu coração está longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que máquinalmente aprenderam”. (Is 29:13).
Eu, particularmente neste texto, gosto da palavra “máquinalmente”. Uma máquina funciona perfeitamente. Se observarmos as linhas de produção das grandes montadoras de automóveis, elas funcionam muito bem, e produzem bastante, e com uma rapidez incrível.Um computador por mais que possua capacidade ilimitada de armazenamento de memória, sempre será uma máquina! Nunca será um corpo. Um corpo é um organismo vivo, que se locomove, se alimenta, conhece as suas necessidades. Não uma máquina, que se você não colocar óleo ou não ligar na tomada, ela não funciona.
Será que é difícil observarmos máquinas hoje em dia nas igrejas? Será que não conhecemos pessoas que vão à igreja anos após anos, que chegam, se ajoelham, se sentam, se levantam, cantam, se sentam, se levantam, lêem, se sentam, se levantam, dão alguns abraços, se sentam, se levantam e vão embora (ufa! Já fiquei cansado), e fazem isto anos após anos. É pior que uma máquina, ela ainda produz alguma coisa; ele não produz nada!
Mas como tudo isso se inicia? Começa da seguinte forma: A pessoa tem uma necessidade de Deus, algo que o impulsiona para ir à igreja, chegando lá, ouve uma mensagem do amor de Deus, que se preocupa com ele, e quer salva-lo. Ele o aceita, se converte, torna-se nova criatura. Até aí, tudo bem, tudo caminhando normalmente. Porém, aquele irmão que se converteu a pouco tempo, começa a desenvolver uma tamanha sede de Deus, que não pode conter, uma fome pela palavra que o leva a ler a bíblia constantemente. Até que chega a ele alguém que diz: “Irmão, vá com calma, você se converteu um dia destes, tem ainda muito tempo para aprender “como as coisas da igreja funcionam”, não precisa ficar se matando de ler a bíblia e nem orando demais, tudo demais estraga, Deus não quer nenhum sacrifício exagerado de você”. Portanto, foi como “jogar um balde de água fria” na fé do novo convertido, é como negar leite a uma criança recém nascida, que com certeza crescerá um homem espiritual desnutrido, se chegar a crescer.
Outra coisa que fazem são pregações relatando promessas de Deus, e quando as pessoas se chegam a eles, mandam as pessoas esperarem até o recebimento da benção, um dia, quem sabe, se você for merecedor. Isto é a mesma coisa que você chamar pessoa com câncer, em fase terminal, lhe prometer um remédio eficaz, e quando ele se chegar até você receberá apenas um chá de camomila e o mandará ir para casa dormir.
Não me admira que as pessoas não quererem ir às igrejas hoje em dia, ou então se desligam delas com menos de um ano de convertidos, não temos nada a oferecer! Nada que modifique a situação em que se encontram. Agora o que fazem constantemente é estabelecer novas regras que aprisionam as pessoas e as fazem se sentir piores do que quando estavam no mundo. Não faça isto, não coma aquilo, não corte isto, não compre aquilo, queime aquilo outro. Coisas que eu tenho certeza que o próprio Deus não está interessado se fazemos ou deixamos de fazer.
“Porque é preceito sobre preceito e mais preceito; regras sobre regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali. Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estranha falará o Senhor a este povo, ao qual disse: Este é o descanso, daí descanso; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, se enlacem, e sejam presos”.(Is 28:10 a 13).
É muito fácil estabelecer o trajeto, ou o funcionamento de uma máquina, é muito fácil estabelecer a manutenção de uma máquina, é muito cômodo botar uma máquina para fazer o trabalho de um corpo. Máquina não fala, não reclama, não tem sentimentos e nem emite opiniões. Trabalhar com um corpo exige que se tenha:
“Amor, paciência, auto controle, perseverança, bondade, alegria, um animo longo, fé, esperança, e contra estas coisas não há lei”. (Gl 5 : 22,23).
O que precisamos hoje, cada vez mais, é de homens e mulheres que estejam dispostos a desenvolverem uma comunhão com Deus, crescendo espiritualmente, tornando-se a cada dia a imagem de Cristo, para então, transmitirem a mensagem de um Deus verdadeiro, tendo as palavras de Jesus, não como regras, mas como ensinamentos.
“Ensinando a guardar todas as coisas...”.
(Mt 28:20).
Mas, para ensinar, é preciso primeiro aprender, e para aprender, é preciso manter uma comunhão íntima e constante com Deus. É preciso que haja uma entrega total e verdadeira para que se possa crescer cada dia mais. Por isso:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e Perfeita vontade de Deus.”
(Rm 12:1,2).
Creio que todos nós queremos experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Para isto, nada mais é necessário, além de que nos apresentemos a cada dia, os nossos corpos, como um sacrifício vivo, santo e agradável, que é o verdadeiro culto, o culto racional.
Agora, não pense que isto é para pastores e líderes, pessoas que tem todos os seus horários livres para Deus. É para eles tanto quanto é para nós.
Quando a palavra de Deus diz que: “Deus não faz acepção de pessoas”, isto quer dizer que aos olhos de Deus, todos somos rigorosamente iguais, todos temos as mesmas condições de obter todas as promessas de Deus.
Uma vez que, andamos na presença de Deus, haverá uma modificação em nossas vidas, as pessoas perceberão que há algo novo em nós, haverá luz em nossas vidas, então com certeza teremos algo a oferecer, não algo que seja paliativo para situação, será algo que realmente modificará as nossas vidas e as vidas das pessoas que nos rodeiam. Então poderemos fazer como Pedro e João e dizer com toda a certeza:
“Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda”. (At 3:6).